Uma outra forma de olhar a economia é reflectir sobre como se podem combinar melhor os seus «ingredientes» (empreendedores, empresas, actividades e conhecimento) para dar novas respostas aos desafios/problemas da sociedade.
A bela infografia do Expresso Economia (autoria de Paulo Buchinho) que se anexa acima ilustra bem o potencial das cidades para discutir essa combinação.
Num momento de algum esgotamento de modelos, talvez valha a pena pensar no potencial das cidades enquanto espaço de concentração de problemas e recursos, de geração de ideias e de procura de soluções. Mais do que o país ou as regiões, as cidades podem oferecer aos actores económicos (grandes, médios e pequenos) a escala adequada para compreender melhor a sociedade actual e suas necessidades como um todo (habitar, mover, trabalhar, lazer e cultura, alimentação, vestir) e gerar novos produtos e serviços.
Para o fazer talvez os actores económicos necessitem de partilhar uma visão de sociedade e um quadro de valores que vão para além da retórica do «crescimento» e que inclua uma nova ética sobre o valor da riqueza gerada.
A partir daí precisarão de novas fórmulas de partilha de riscos e benefícios, novos métodos de trabalho (cooperativo e de articulação sectorial), novos ingredientes (conhecimento), novos horizontes (mercados e clientes) e, por fim, de apoio para este novo caminho de experimentação assistida, que uma política pública inteligente certamente saberá oferecer.
Talvez este possa ser um caminho virtuoso para pensar o futuro da economia e do país!
É necessário colocar a regeneração do centro das cidades na agenda política local e nacional. Isso não significa necessariamente mais investimento nas cidades, mas uma melhor combinação dos actores e recursos disponíveis em torno de um desígnio comum, com enfoque territorialmente articulado.
A necessidade de uma abordagem mais holística e preventiva à questão da saúde e bem-estar das comunidades que vivem aglomerações urbanas fez com que a OMS criasse em 1986 o conceito de «cidades saudáveis». Apesar do impacto mediático da iniciativa, e do seu desenvolvimento à escala global, os resultados têm ficado um pouco aquém do desejado. Isto aconteceu em grande medida pela dificuldade da passagem da teoria à prática, seja pela exigência dos requisitos - ambiente físico de qualidade, necessidades básicas da população asseguradas, serviços públicos de saúde acessíveis a todos – seja pela ambição metodológica necessária à sua concretização- compromisso político, liderança, mudança institucional e parcerias entre actores. A partir da análise da realidade em Portugal e dos problemas que as nossas cidades hoje enfrentam, convido os participantes no evento do dia 17 de Outubro organizado pelo Núcleo de Arquitectos da Região de Viseu a pensar de que forma nos podemos organizar colectivamente para planear e conceber «cidades (verdadeiramente) saudáveis».
Estive em Mangualde a convite da Silvia Vermelho e da Patrícia Morais da Ação Pólis para falar sobre Cidades, Participação e Futuro. É sempre estimulante encontrar cidadãos e organizações inquietos sobre o futuro das suas comunidades e disponíveis para pensar e agir (colectivamente). Os problemas que temos pela frente são muito complexos e de difícil resolução. Provavelmente, alguns não terão solução. Mas acredito que o caminho mais promissor é aquele que pudermos fazer colaborativamente e em torno das cidades.
Partilho o guião da conversa que serviu de mote à nossa animada conversa. Espero que vos seja útil!
Termino agradecendo à Sílvia e à Patrícia e dando-lhes os parabéns pelo seu elevado sentido de responsabilidade social pela Pólis. Se puder ser útil, disponham!
No dia 20 de Setembro estarei em Mangualde a convite da Silvia Vermelho e da Ação Pólis para falar do papel dos cidadãos e das organizações de cidadãos na vida das suas cidades e vilas, num momento em que o futuro parece tão pouco animador. Como ponto de partida para a conversa deixo as seguintes questões. Que recursos dispomos na nossa comunidade e como os temos valorizado (onde estamos nós)? Que ambições individuais e colectivas temos (para onde queremos ir)? Como nos podemos mobilizar e organizar colectivamente (como vamos lá chegar)? Parece-vos bem? Então se puderem, apareçam!
Ana Gerschenfeld apresenta hoje no Público as conclusões de um estudo muito interessante co-coordenado por Luís Bettencourt (Instituto Santa Fé - EUA) baseado na análise das comunicações móveis.
O estudo conclui que «seja qual for o tamanho da cidade onde vivemos, a probabilidade de que os nossos amigos se conheçam entre si não se altera», isto é, apesar de nas grandes cidades «haver maiores oportunidades de interagir com mais indivíduos e com indivíduos mais diversos» isso não ocorre.
É interessante e preocupante este resultado. Os autores sugerem uma explicação. Isto acontece porque «os seres humanos se organizam instintivamente em comunidades sociais compactas». Revelador. Apesar do imenso potencial relacional, estamos a formar grupos social e culturalmente demasiado homogéneos e pouco dialogantes entre si.
NOTA: HCM chama a atenção no Alcatruz para a particularidade da nossa sensibilidade relacional com estrangeiros, que explicará um pouco a colonização portuguesa (LINK). Será que estaremos a perder essa qualidade genética no micro-cosmos urbano português?
O caso de Aveiro também foi estudado. Segundo o estudo temos em média 8 contactos e a probabilidade de eles se conhecerem entre si é de 20% (http://senseable.mit.edu/urbanvillages/), valor semelhante ao de Lisboa.
Temos o país em risco. 4 milhões de automóveis produzem diariamente mais de 60% das deslocações, 3x mais do que tínhamos há 20 anos, uma parte delas de curta duração. Andamos menos a pé (16%, menos 55% que em 1991) e de transporte colectivo (17%, menos 1/3 em igual período). Ao mesmo tempo, 1 milhão de adultos e 15% das crianças entre 6 e 9 anos são obesos. Mas não só. 3,5 milhões de adultos e 1/3 das crianças entre 6 e 9 anos têm excesso de peso. Temos cidades e cidadãos em risco cardiovascular, com consequências conhecidas.
A bicicleta enquanto modo de deslocação diário tem alguma expressão em certas zonas do país (sobretudo no Baixo Vouga, mas também no Baixo Mondego, Pinhal Litoral e Algarve), sobretudo nas deslocações para a escola e também trabalho. Mas tem expressão residual a nível nacional (0.5%).
Mas algo está a mudar. Em 2012 venderam-se mais bicicletas que automóveis (113.408 automóveis e 350.000 bicicletas). E exportamos 200 milhões de euros de bicicletas (o Paulo Rodrigues da ABIMOTA lembra que isto é um pouco menos de metade da cortiça). Somos o 5.º maior produtor de acessórios e o 7.º de bicicletas na Europa.
Para além dos 30.000 utilizadores regulares, mais de 100.000 pessoas praticam desporto em bicicleta. E alguns usam-na em passeios de fim-de-semana e em férias.
A bicicleta pode ajudar a tratar da saúde das nossas cidades, da nossa economia, da nossa saúde. Talvez não seja preciso inventar a roda, mas podemos encontrar a mudança certa. E cada um de nós pode fazer algo por isso!
«Uma grande mobilização da sociedade civil no Recife, contra um megaempreendimento imobiliário a ser construído em terreno que pertenceu à Rede Ferroviária Federal (RFFSA), merece atenção porque tem a ver com processos em curso em várias cidades brasileiras hoje»
«livable cities are not enough. We need to create urban areas in which individuals can flourish and innovate. It is no accident that the Enlightenment – which led in turn to the fastest and largest increases in living standards in human history – unfolded in cities. New thinking is a natural consequence of high population density, provided the right conditions are met – conditions that include public spaces in which people can interact and culture can thrive, and a democratic ethos that welcomes and encourages public participation» J.E.S.
Um prémio merecido para o notável trabalho de Luís Costa à procura dos sons perdidos das nossas aldeias e cidades (recomendo Projecto educativo Cidades Sonoras - Um Projeto de Mapeamento Sonoro de Cidades Portuguesas).
A propósito do tema das cidades sonoras, partilho registo do belíssimo trabalho que o João Martins e o Visões Úteis têm feito sobre a matéria:
Dois artigos interessantes no The Guardian (*) sobre o crowdfunding (finaciamento pela comunidade) de micro-projectos urbanos. Sendo uma ferramenta de enorme potencial, sobretudo pela mobilização das comunidades em torno de causas colectivas, contém várias limitações que devem ser ponderadas, a mais importante das quais o risco de desresponsabilização do Estado pelo financiamento e apoio a iniciativas de interesse comum. Voltaremos ao assunto em breve.