Uma comitiva de docentes e alunos do Mestrado em Planeamento Regional e Urbano - Universidade de Aveiro e de dinamizadores do Vivó Bairro (*) foi a Milão participar numa intensiva sessão de trabalho no âmbito do Community Participation in Planning - CPIP organizada pela Grazia Concilio, nossa parceira do projecto no Politécnico de Milão. Em resultado da visita, onde conhecemos várias iniciativas exemplares, e do debate realizado ao longo destes dois anos de trabalho retivemos três ideias chave. Primeira ideia: a relação entre as universidades e as comunidades locais é cada vez mais forte e diversificada em resultado do reconhecimento do papel do conhecimento, nas suas múltiplas formas, como instrumento de transformação da realidade. Segunda ideia: o aprofundamento dessa relação vai exigir um quadro de institucionalização, em modelo de geometria e geografia variáveis, e no qual as universidades podem assumir um relevante papel de mediação, que dê uma maior sustentação aos esforços individuais e coletivos e mobilize e organize, de uma forma mais eficaz, os recursos disponíveis visando a promoção de ações pelo bem comum. Terceira ideia: apesar dos notáveis progressos, há um longo caminho de sensibilização dos actores envolvidos, de desbloqueamento de barreiras institucionais e culturais e de activação de energias cívicas dispersas, adormecidas e invisíveis. Para dar continuidade a esta reflexão, convidamo-los a participar ativamente na IV Conferência de Planeamento Regional e Urbano que vamos organizar 23 e 24 Fevereiro na Universidade de Aveiro - call para resumos/abstracts aberta até ao dia 25 de Novembro
É compreensível que as grandes cidades europeias e mundiais acompanhem as marés culturais, tecnológicas e financeiras e resolvam aproveitar a onda quando os ventos parecem ser favoráveis. Ainda assim, convém ter em atenção que este tipo de «vagas» são fenómenos cíclicos resultantes de forças não controláveis e que às vezes nos levam para onde não queremos ir. A este propósito, e do entusiasmo pelo Web Summit em Lisboa relatado na notícia do The Guardian, talvez valha a pena acompanhar o debate em torno do lançamento do último livro de Richard Florida - o guru das "cidades do talento". Centrado no tema da "crise urbana", o autor faz "mea culpa" e alerta para os riscos da aposta na atração da "classe criativa" que durante tantos anos defendeu como receita milagrosa para o desenvolvimento das cidades. Entre os vários problemas, ou efeitos colaterais, apontou o aumento do custo da propriedade, a gentrificação, o aumento das desigualdades e o aprofundamento da segregação, e a expulsão da classe média do centro das cidades. A aposta de Lisboa para se tornar numa «capital tecnológica» não deve negligenciar este risco.
A ocorrência de um "Ano sem Verão" há 200 anos atrás poderá ter estado na origem da bicicleta. Curioso? Então é assim. Em 1816 sucedeu um dos maiores fenómenos de arrefecimento global conhecido pelo "Ano sem Verão”. Essa anormalidade climatérica surgiu devido à brutal erupção do vulcão Tambora, na Indonésia, que produziu uma significativa descida da temperatura nos meses de Verão, com neve e gelo a assolar muitas regiões da América do Norte e Europa. Em resultado dessa intempérie, houve grandes perdas na produção agrícola e animal. Um dos efeitos colaterais foi a redução do número de cavalos, seja por consequência direta do mau tempo ou indirecta pelo aumento do preço da aveia, o que conduziu a perturbações na actividade do transporte de passageiros. Há quem diga que tal constrangimento na mobilidade das cidades – e a antecipação dos riscos da dependência dos equinos - terá impulsionado o Barão Karl von Drais a criar (ou a aperfeiçoar) em Manhein, na Alemanha, a primeira geração de bicicletas que apresentou publicamente um ano depois em Paris. Não deixa de ser irónico que, dois séculos volvidos, estejamos novamente assustados com as mudanças climáticas, preocupados com a mobilidade nas cidades e a dependência de um modo de transporte (igualmente movido a cavalos) e a olhar para a bicicleta como parte da resposta a esses problemas. A história mostra-nos que, muitas vezes, não é preciso inventar a roda. Só precisamos de a usar de modo inteligente. Bom ano de 2016!
As campanhas eleitorais são momentos de capital importância para a democracia. É nelas que se deveriam fazer balanços, conceber e discutir projectos para o novo mandato eleitoral e debater alternativas. Seriam um momento de arejamento e refrescamento da democracia.
Acontece que uma campanha esclarecedora precisaria de arenas transparentes, universais e acessíveis a todos os cidadãos; de evidências sólidas (sobre o passado e o presente) que permitissem fazer julgamentos e construir uma visão programática sobre o futuro; de métodos de interacção com potenciais eleitores que assegurassem a sua mobilização na construção das propostas, na sua defesa e futura avaliação; e de protagonistas credíveis e competentes.
Lamentavelmente, com raríssimas excepções, pouco ou nada foi feito para evitar a campanha a que temos assistido. Pouco ou nada mudou na forma como se concebem campanhas eleitorais, como se envolvem os cidadãos, como se constroem alternativas. Portanto, dificilmente o resultado poderia ser diferente do que estamos a ter.
As lojas de conveniência dos aeroportos são o que mais próximo temos da internet no mundo real. Em poucos minutos, podemos navegar por entre um mundo de jornais e revistas, das mais sofisticadas às mais banais. O retracto que vos deixo é a minha selecção, parcial certamente. Mas estão aqui quatro temas aos quais julgo não poderemos fugir nos próximos tempos, a saber: o problema do discurso único e falta de arenas com impacto mediático para uma discussão sobre alternativas; as dúvidas sobre a orientação ideológica e programática dos partidos sociais-democratas europeus (a dúvida é sobre o PS francês mas pode ter leituras mais abrangentes, mesmo em Portugal); a necessidade de reinventar a forma como pensamos o futuro dos países a partir das cidades e por sua vez como planeamos as cidades para e com as comunidades (o caso de Nantes que visitei esta semana deveria ser um case-study para as cidades portuguesas); finalmente, a necessidade de pensar o crescimento e o emprego através da promoção da inovação de produtos e serviços para responder às necessidades básicas dos cidadãos construindo colaborativamente essas novas ofertas (a conferencia velo-city 2015 onde estive presente foi um bom exemplo do que pode ser esse "mundo novo").<
A conferência Velo-City juntou este ano em Nantes mais de 1.600 participantes de cerca de 60 países. É um pequeno continente de activistas, cientistas, políticos e empresários que se forma durante quatro dias para falar de bicicletas e, este ano, da forma como estas podem ajudar a construir um futuro melhor («cycling: future makers»).
A sessão de abertura, normalmente excessivamente protocolar, teve alguns discursos marcantes. Do conjunto retive o apelo para que as conversas dos próximos dias não se centrem na bicicleta, mas nas cidades que queremos ter e nas necessidades dos seus cidadãos. Um apelo oportuno para que as conclusões possam chegar aos 91% de pessoas que na Europa não andam de bicicleta.
Das intervenções do primeiro dia, das quais destaco a dos autarcas de Rennes, Estrasburgo e Nantes, municípios franceses referência nesta matéria, registo as seguintes três sugestões de aposta. A necessidade de cidades e bairros de proximidade que reduzam as deslocações entre casa, trabalho e serviços, oferecendo aos seus utilizadores mais densidade, massa crítica e tempo. Também foi proposto a aposta num espaço público qualificado visando reduzir a velocidade, aumentando a partilha do espaço pelos diferentes modos de transporte e a segurança para os mais frágeis. Por último, foi recomendada a criação de multi-serviços de apoio aos ciclistas centrandos na procura das condições para ultrapassar os obstáculos básicos que impedem a mudança de modo de transporte, nomeadamente o estacionamento seguro (no espaço público, edifícios actuais e futuros), a manutenção da bicicleta, o apoio à deslocação (através das tecnologias) e as entrega de compras e pequenos volumes ao domicílio.
Do ponto de vista metodológico, também três medidas. Fixar objectivos razoáveis para a quota modal da bicicleta e medir regularmente o impacto das medidas. Envolver as comunidades na concepção e implementação das propostas, nomeadamente através de novas figuras institucionais (como os conselhos de utilizadores de espaço público recentemente criado em Nantes - ver exemplo). Após resolvidos os principais problemas do centro da cidade, iniciar iniciativas semelhantes nos territórios mais periféricos, garantindo um maior equilíbrio espacial nas intervenções e preocupação.
Está aqui uma boa agenda para os municípios portugueses.
Como palestrantes teremos Lincoln Paiva que nos falará desde São Paulo através da web, Tiago Castro e João Pedro Rosa promotores e dinamizadores do projecto Vivacidade. Eventualmente, teremos também representantes do Colectivo Nora.
As inscrições poderão ser feitas através do endereço jcmota@ua.pt
Que bom é ter uma T.S.F que nos conduza na neblina da demagogia, nos proteja das vagas da desinformação e ofereça a sua voz em defesa dos que tombaram no alto mar da indiferença!
A função mais nobre de uma academia é contribuir para melhorar a vida de quem dela faz parte, oferecendo competências, abrindo horizontes e fortalecendo os laços que unem os seus membros e a comunidade. Há, naturalmente, diferentes formas de contribuir para essa melhoria. O conjunto de iniciativas pela promoção do uso da bicicleta que a Associação Académica da Universidade de Aveiro, Universidade de Aveiro, Município de Aveiro, Polícia Segurança Pública ,FORUM ESTUDANTE e Ciclaveiro levaram a cabo esta semana é uma delas. Este caminho conjunto feito de diálogo, pedagogia, colaboração, solidariedade e diversão é muito rico e inspirador. É toda uma «nova vida» construída pelas nossas mãos!
Acaba de ser anunciado que, a título absolutamente excepcional, os portugueses podem devolver 2015, até meados de Janeiro, caso este não esteja a corresponder ao desejado. Para o fazer, os cidadãos devem solicitar o talão de troca nos serviços de finanças no primeiro dia útil do ano. Avisa-se ainda que para se proceder à troca, o ano novo não pode apresentar mazelas assinaláveis.
Os duzentos habitantes de Cabeça, na Serra da Estrela, aproveitaram o concurso «Seia, Comunidade Participativa» desenvolvido no âmbito da Agenda 21 Local para se mobilizar e, em conjunto, enfeitar a sua aldeia. Usaram materiais provenientes da natureza e das empresas têxteis da região (que os cederam gratuitamente) e decoraram-na com muita arte e engenho. Tiveram ainda a preocupação de usar iluminação natalícia mais eficiente feita com equipamento LED (este é um dos concelhos pioneiros em Portugal neste domínio).
A vida na aldeia tem estado muito agitada e espera-se que assim continue depois das festas. Um exemplo!
Uma outra forma de olhar a economia é reflectir sobre como se podem combinar melhor os seus «ingredientes» (empreendedores, empresas, actividades e conhecimento) para dar novas respostas aos desafios/problemas da sociedade.
A bela infografia do Expresso Economia (autoria de Paulo Buchinho) que se anexa acima ilustra bem o potencial das cidades para discutir essa combinação.
Num momento de algum esgotamento de modelos, talvez valha a pena pensar no potencial das cidades enquanto espaço de concentração de problemas e recursos, de geração de ideias e de procura de soluções. Mais do que o país ou as regiões, as cidades podem oferecer aos actores económicos (grandes, médios e pequenos) a escala adequada para compreender melhor a sociedade actual e suas necessidades como um todo (habitar, mover, trabalhar, lazer e cultura, alimentação, vestir) e gerar novos produtos e serviços.
Para o fazer talvez os actores económicos necessitem de partilhar uma visão de sociedade e um quadro de valores que vão para além da retórica do «crescimento» e que inclua uma nova ética sobre o valor da riqueza gerada.
A partir daí precisarão de novas fórmulas de partilha de riscos e benefícios, novos métodos de trabalho (cooperativo e de articulação sectorial), novos ingredientes (conhecimento), novos horizontes (mercados e clientes) e, por fim, de apoio para este novo caminho de experimentação assistida, que uma política pública inteligente certamente saberá oferecer.
Talvez este possa ser um caminho virtuoso para pensar o futuro da economia e do país!
É necessário colocar a regeneração do centro das cidades na agenda política local e nacional. Isso não significa necessariamente mais investimento nas cidades, mas uma melhor combinação dos actores e recursos disponíveis em torno de um desígnio comum, com enfoque territorialmente articulado.
«Smart Civic Cities» é um pequeno um contributo de reflexão para o debate sobre smart cities. O sublinhado assinala o potencial da inteligência colectiva para promover melhores cidades. Partilho o documento apresentado na passada sexta-feira na Conferência «Smart Cities: It's all About People» organizado pela Smart Cities Portugal (rede gerida de forma notável pela Catarina Selada). É uma versão 2.0 aumentada e melhorada.
O que podemos fazer pelas nossas cidades para que sejam mais saudáveis? O ponto de partida não é muito animador e os instrumentos que temos não têm mostrado muita eficácia. Provavelmente temos de procurar outros caminhos. Já não temos muito tempo!
Deixo aqui o guião da animada conversa de fim de tarde em Viseu.